O DOMÍNIO DO ESPÍRITO

 O DOMÍNIO DO ESPÍRITO


"Melhor é o longânimo do que o valente; e o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade." 

(Pv 16:32)


Prof. Pedro Virgínio


O espírito do homem, o “homem interior”, não é simplesmente moldado por forças exteriores tais como a família, a sociedade, a educação escolar e a religião. Também não  se forma separado de tudo isto e tantas outras influências que recebe. Ele se constitui na interação com todo esse contexto que o cerca. 


Nos remetendo ao texto em epígrafe, o texto base dessa reflexão, entendemos que esse homem interior é base fundamental de nosso estado geral de saúde. 


Os contextos exteriores, sejam eles sociais, políticos ou culturais, em suas reviravoltas, o mais das vezes, estão além das nossas possibilidades de controle ou de intervenção direta e significativa. Mas aquilo que se instala em nosso espírito está em boa medida sob a nossa jurisdição e relativo controle. 


Evidente que este "dominar do espírito" não ocorre como que apertando um interruptor que interromperá imediatamente os nossos estados de medo, impulsividade e agitação. Despertando, automaticamente, sentimentos de calma, paciência, perseverança e esperança (Que não é apenas um sentimento, mas um modo de raciocínio).


Esse domínio do espírito é fruto de exercícios (que escolhemos ou que as circunstâncias nos impõe) que levam à aprendizagem, consolidando pouco a pouco este importante estado de nossa saúde global: A estabilidade do espírito. Chame de inteligência emocional, se quiser.  


Diante disso quero sugerir algumas orientações para o exercício desse "dominar do espírito": 


1. Reconheça e pare de lutar desesperadamente contra a natureza incerta do futuro.


Tiago levantou a seguinte advertência em sua carta: 


"No entanto, não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois um vapor que aparece por um pouco, e logo se desvanece." (Tg 4:14)


Do mesmo modo o Eclesiastes admite que ao homem não é dado conhecer o que virá no amanhã. Por mais que nos preocupemos, muitos fatores sempre estarão fora do nosso controle. 


2. Cuide do seu pŕesente, criando bases para o futuro e suprindo necessidades atuais. 


Jesus Cristo nos exortou a considerar os problemas que se nos apresentam em cada dia, sem ceder à tendência de nos atormentar antecipadamente com possíveis problemas futuros. O que não significa um presente sem planejamento e sem considerar o amanhã. Isto seria contrário ao ensino geral das Escrituras. Mas, Jesus nos adverte contra a agitação excessiva e ineficaz. Que tem o potencial de apenas tornar as situações mais difíceis, ao perturbar o nosso espírito, turvando a nossa capacidade de pensar.


Como fundamento para esse exercício, nos aponta os processos da natureza que revelam a ação de Deus, provendo alimento e sustento para as suas criaturas não humanas. Muito mais cuidará ele daqueles que foram constituídos sua imagem e semelhança. 


3. Selecione aquilo que permitirá permanecer em suas meditações.


Há muito ouvi e retive na memória um provérbio, supostamente árabe, que diz: "Não posso evitar que um passarinho pouse na minha cabeça. Mas posso evitar que ele faça um ninho nela.".


Ouvir falar de catástrofes, de injustiças, de desmandos e de expectativas terríveis para o futuro é, para nós, inevitável. É possível mesmo que em algum momento venhamos a ser atingidos por algumas dessas mazelas. 


Contudo, ao receber todas essas informações que circulam nas mídias e tentar solucionar cada um dos dilemas que nos nos são apresentados, ainda que seja só no plano mental, teremos pouco a pouco comprometida a nossa capacidade de pensar fora do "círculo vicioso do conflito". E estaremos em conflito, diante de muitas situações do mundo contraditório, incoerente em que vivemos. 


Tentar resolver as incorências do mundo dentro de nossa cabeça poderá nos levar à sacrificar uma parte de nossos valores, como cristãos, a fim de preservar outros. Porque o conjunto deles não se encaixa coerentemente no mundo. Mas o problema não está nos valores do evangelho, está na condição contraditória do mundo. 


4. Defina um conjunto de valores e condutas que deverão ser a sua "régua" em todas as situações, a partir da qual definirá seus posicionamentos, atitudes e comportamentos. 


Sei que este último tópico parece bem óbvio para muitos que logo dirão: "A régua deve ser a Palavra de Deus."  Mas é fácil percebermos que essa afirmação pode muito bem ser uma vaga noção, e que não nos ajudará muito diante de situações práticas, se não carregarmos em mente um caminho bem definido de valores e condutas básicas, que expressem a essência da Palavra de Deus. 


Essa síntese precisa nascer no interior de cada um, no decorrer de sua própria busca e esforço. Uma lista feita por alguém, ou até por nós mesmo, será de pouco valor. 


Certamente estamos diante de um exercício que demanda esforço e perseverança. Afinal o "domínio do espírito" está posto como um feito bem mais elevado do que a tomada de uma cidade fortificada por meio de uma guerra.


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